Chegou o momento de revelar o TOP 10 melhores mangás de 2023, na minha humilde opinião. Para isso eu utilizei os três principais critérios que também usei em todos os anos anteriores: Qualidade da Arte, um fator que certamente é subjetivo, mas que eu tentei avaliar mais a evolução do autor e também suas características únicas. A progressão da história, quanto em 2023 a história da obra progrediu e se inovou. E para concluir, a emoção dos capítulos: Quanto o autor conseguiu trazer alma nos capítulos lançados em 2023. Deixo abaixo os vencedores dos últimos cinco anos (e todos os vencedores nos comentários).
2018 –
5. ONE PIECE
4. Golden Kamuy
3. Sangatsu no Lion
2. Beastars
1. Daiya no Ace II
2019 –
5. Sangatsu no Lion
4. Act-Age
3. JoJolion
2. Haikyuu!!
1. ONE PIECE
2020 –
5. Chi no Wadashi
4. Sangatsu no Lion
3. Jujutsu Kaisen
2. Chainsaw-man
1. My Broken Mariko
2021 –
5. Blue Period
4. Sangatsu no Lion
3. Golden Kamuy
2. Look Back
1. Sousou no Frieren
2022 –
5. Sangatsu no Lion
4. Sousou no Frieren
3. Chihayafuru
2. Dandadan
1. Golden Kamuy
Lembrando que já publicamos também outras duas partes, no qual eu revelei o TOP 30 e TOP 20, melhores mangás de 2023. Por isso se você quiser verem o TOP 30 – 21, melhores mangás de 2023, clique AQUI. E caso você queira saber quem conquistou as posições 20 – 11, clique AQUI. Sem mais delongas, vamos ver o TOP 10 melhores mangás do ano, SEM SPOILERS!
10 – Yomi no Tsugai
09 – Hirayasumi
Eu acredito que o Analyse It conta com muitos leitores que acompanham exclusivamente as séries da Weekly Shonen Jump, ou, em alguns casos, até mesmo apenas as séries de ação presentes na revista. Apesar de minha profunda admiração pela minha queridinha Weekly Shonen Jump, quando o assunto são meus mangás preferidos da atualidade, eles são publicados em várias revistas diferentes. Isso evidencia como diversas equipes editoriais conseguem lançar obras de qualidade em diversos periódicos.
“Hirayasumi” é um desses mangás, publicado na Weekly Big Comic Spirits, uma revista que não é abordada em nosso site, mas que possui grande importância no mercado. Trata-se de uma comédia dramática (dramédia) seinen, que narra a história de Hiroto Ikuta, um jovem de 29 anos que leva uma vida como freeter, transitando entre empregos precários sem conseguir estabilidade. Sua vida passa por uma transformação ao herdar uma casa, na qual passa a morar com uma jovem de 18 anos, estudante de artes.
Em 2023, o autor continuou a desenvolver a incrível dinâmica entre todos os personagens da série, abordando temas como amor e ciúmes de maneira sensível, ao mesmo tempo que presenteou os leitores com capítulos criativos e engraçados, como aquele da curta metragem, que simplesmente me fez gargalhar com toda a sua picante dinâmica. “Hirayasumi” é, atualmente, uma das minhas leituras favoritas.
08 – Skip to Loafer
Com o lançamento do anime neste ano, “Skip to Loafer” chamou a atenção de muitas pessoas, mas a realidade é que a obra vem entregando capítulos excelentes há anos. Para mim, a obra é uma FILHA dessa revolução que estamos presenciando no mundo dos mangás nos últimos anos, onde vemos cada vez mais obras que se aproximam dos Webtoons de romance, especialmente em sua narrativa voltada para uma análise moderna das questões simples da vida e da inocência de certos sentimentos.
“Skip to Loafer” conta a história da jovem de 15 anos, Mitsumi Iwakura, tentando se adaptar a Tóquio. Em 2023, a obra teve capítulos mais centrados nos personagens secundários, principalmente em Shousuke Shima, que é o personagem mais interessante da obra. Sinceramente, gostei bastante de como o autor continua a desenvolver tão bem esse personagem, criando assim mais camadas na história que consegue, com sua simplicidade, abordar questões sobre problemáticas familiares, sentimentos amorosos e também “quem queremos ser quando crescer”. “Skip to Loafer” é um dos melhores Coming-of-Age atuais.
07 – Vinland Saga
Em sétimo lugar, temos “Vinland Saga”, um mangá que conquistou o status de “cult” aqui no Ocidente. É fascinante observar a diferença de tratamento entre o público casual de leitores para “Kingdom” e “Vinland Saga”. Enquanto “Kingdom”, que aborda una temática oriental como a unificação da China, é um enorme sucesso no Japão, sempre figurando entre os mangás mais vendidos, no ocidente é considerado um mangá de nicho.
Por outro lado, “Vinland Saga”, que explora a história dos vikings, tem um amplo alcance no ocidente, especialmente devido ao anime, sendo discutido em vários podcasts e canais de youtubers populares. No entanto, no Japão, é seguido por um público mais nichado, não conseguindo se posicionar entre os mais vendidos do ano. Ambas as séries, na minha opinião, são de alta qualidade.
Em 2023, “Vinland Saga” continuou a entregar capítulos excelentes, focando mais na construção da tensão entre os povos, sem revelar detalhes para evitar spoilers. O autor, que está apresentando menos grandes guerras, parece utilizar estratégias mais inteligentes para criar tramas novas, evitando a repetição contínua do enredo. Novos cenários são introduzidos, trazendo desafios na adaptação, dificuldades na comunicação que geram conflitos mais complexos e o surgimento de doenças, acrescentando ainda mais complexidade aos conflitos internos de cada grupo. “Vinland Saga”, em minha opinião, está se revelando cada vez mais como um mangá maduro e inteligente.
06 – Sousou no Frieren
Outro mangá que explodiu em 2023 devido ao anime é “Sousou no Frieren”. Antes mesmo do seu lançamento, eu já havia elogiado enormemente a série em meu vídeo no Youtube, e continuo mantendo a minha opinião sobre esse mangá que liderou o meu TOP 30 de 2021 e esteve no meu TOP 5 em 2022. “Sousou no Frieren” conta a história de uma elfa que, após ver um dos seus principais companheiros de aventura morrer de velhice, decide entender melhor sobre os seres humanos.
A evolução de Frieren, e principalmente a sua relação com seus companheiros de viagem, é o que torna “Sousou no Frieren” tão especial: Eu literalmente não ligo para as cenas de ação, mesmo que elas sejam importantíssimas para dar uma carga maior para a série. E é por isso que novamente “Sousou no Frieren” conseguiu estar no TOP 10 dos melhores mangás do ano. Neste ano, a obra se concentrou mais no passado, na aventura anterior de Frieren, na qual pudemos conhecer um pouco mais sobre a dinâmica do grupo de aventura e, principalmente, conhecer muito mais sobre Himmel, uma das figuras mais emblemáticas da série.
Foi um ano com vários capítulos super importantes, uma pena que tivemos poucos capítulos este ano, somente 14, resultando em menos de dois volumes. Para um mangá com estrutura narrativa semanal, entregar menos capítulos do que os leitores estão acostumados, acaba dando um grande impacto no seu ritmo e progressão na história, e deu para sentir um pouquinho desse impacto em Sousou no Frieren em 2023, por isso mangá mesmo entregando um dos seus melhores capítulos até agora, não conseguiu entrar no TOP 5.
05 – Sangatsu no Lion
Eu sou uma cadelinha de Umino Chica; todo ano, temos Sangatsu no Lion entre os TOP 5. Portanto, para quem segue a lista há anos, não é surpresa ver o mangá entre os melhores do ano. Aliás, no dia em que a obra não conseguir estar nem no TOP 10, podem chamar certamente a INTERPOL, pois alguém me sequestrou e estamos vendo um FALSO LEONARDO NICOLIN escrever as análises dos melhores do ano.
O motivo pelo qual Sangatsu no Lion, mesmo tendo poucas páginas por ano, conseguiu estar no TOP 5 em 2023 e também em todos os outros anos, é que eu acredito que essa sim é a série curta por excelência. Não comparo a leitura de Sangatsu no Lion com mangás que entregam de 20 a 50 páginas por mês ou semana, pois esses mangás têm uma estrutura de ritmo criada para serem obras de capítulos longos. A estrutura artística e narrativa de Sangatsu no Lion é baseada em uma narração de 10 páginas por mês, e a autora é tão incrível no desenvolvimento da sua narrativa que consegue criar quadros mágicos nos quais entendemos em uma ou duas páginas o que os personagens estão sentindo, como a cena na praia neste ano.
O mangá também consegue unir muito bem os elementos do seu gênero “Coming-of-Age”, com o Shogi, entregando em poucos quadros toda a dinâmica das partidas, as dúvidas estratégicas e pessoais tanto do protagonista quanto do adversário – a cada partida, descobrimos algo novo. Sangatsu no Lion é um dos melhores mangás que temos no mercado atualmente.
04 – Chi no Wadashi
Eu simplesmente ODIEI Aku no Hana; é um daqueles mangás que não consegui terminar, pois os personagens eram tão odiosos em sua natureza que me sentia mal lendo a série. O que, para mim, é uma pena, pois conseguia ver a genialidade do autor já em Aku no Hana, principalmente quando o assunto era discutir assuntos mais perturbadores. Chi no Wadashi, contudo, conseguiu, na minha opinião, não me deixar mal, mesmo apresentando personagens (a mãe) tão problemáticos quanto os de Aku no Hana.
Chi no Wadashi conta a história de uma relação doentia de uma mãe hiperprotetiva com seu filho. É daqueles mangás bem dramáticos, que não têm medo de discutir temáticas obscuras de modo cru. O que rende, na minha opinião, o mercado dos mangás tão fascinantes, é que podemos ler séries leves como Sousou no Frieren e Hirasayasumi, podemos também ler séries de aventura e ação como One Piece e Yomi no Tsugai, podemos ler séries de ação mais sérias como Kingdom e Vinland Saga, podemos ler comédias divertidas como Dungeon Meshi e Boku no Roboco, e obviamente podemos também ler mangás mais obscuros como Chi no Wadashi, que, na minha opinião, é uma das melhores séries nesse sentido.
Em 2023, Chi no Wadashi encerrou a sua trajetória, com uma sequência de capítulos que quebrar toda a dramaticidade anterior, e que corretamente expõe o estado mental do protagonista – se o autor mantivesse a mesma dramaticidade seria uma pobreza narrativa que não ajudaria a contar a história que precisava ser contada -. O autor consegue assim concluir todo o ciclo de desenvolvimento de personagem de maneira genial, mudando até mesmo a atmosfera que compõe a obra, discutindo justamente como a nossa mente funciona com o passar dos anos, com o avançar da idade, apesar dos traumas e apesar das dificuldades. Chi no Wadashi é uma aula de como se escrever um mangá seinen.
03 – One Piece
Quando coloquei One Piece em primeiro lugar em 2019, após os capítulos de Laugh Tale, eu realmente acreditei que o mangá teria em Wano um dos melhores arcos da sua vida, estando quase sempre no TOP 5 todo ano. Em 2020, classifiquei a série em décimo primeiro lugar, já que o arco estava me decepcionando, mas mesmo assim mantinha uma boa qualidade. Em 2021, One Piece não conseguiu entrar no TOP 20, e em 2022 não entrou nem no meu TOP 30, justamente por eu estar cansado do arco que não terminava nunca. Em dez anos que monto meu TOP 30, 2022 acabou sendo o único ano que não coloquei a série de Oda entre os trinta melhores.
Eu sempre digo que One Piece é um dos melhores mangás de todos os tempos, pois conseguiu ao longo dos anos manter parte da sua essência aventuresca no mesmo tempo que construiu um mundo ao seu redor muito interessante, com vários personagens secundários de qualidade; tanto os heróis, como Law e Garp, quanto os vilões como Buggy e Barba Negra – e todos esses personagens carismáticos vão influenciando o desenvolver do mundo ao longo das sagas. É essa mistura entre complexidade geopolítica e simplicidade narrativa que torna a obra tão apaixonante e longeva. Em Wano, vi essas qualidades desaparecerem com um arco REPETITIVO, ARRASTADO e COM UMA ARTE CONFUSA.
Contudo, com Egghead, Oda conseguiu renovar meu interesse pelo mangá, que simplesmente está entregando um dos seus melhores arcos até o momento. Finalmente estamos voltando a entender todo o passado que construiu esse mundo político atual da série, estamos vendo personagens queridos retornando – e sendo muito bem desenvolvidos, como aconteceu no Flashback que vimos nos últimos capítulos do ano. E também voltou, mesmo que ainda de modo tímido, aquela sensação de aventura que a série tinha se perdido nos últimos anos. Eu acredito que Egghead coloca de volta One Piece entre os melhores mangás do ano e demonstra que Oda é sim um autor que consegue continuamente se renovar.
02 – Dungeon Meshi
Dungeon Meshi é uma comédia que surgiu do nada, mas conseguiu conquistar o coração de milhares de japoneses. O mangá, que recebeu o anime somente em janeiro de 2024, concluiu sua jornada em 2023, após incríveis 14 volumes. A história segue Laios, um jovem que precisa salvar sua irmã recém-devorada dentro de uma Dungeon. Como sua “party” não tem mais dinheiro para comprar comida, decidem se aventurar na Dungeon enquanto aprendem como se alimentar dos próprios animais presentes.
O mangá é uma comédia que conseguiu unir muito bem o espírito de aventura do RPG com o gênero de mangás de culinária, entregando capítulos engraçados e dinâmicos ao longo de seus 14 volumes. Mas a grande qualidade de Dungeon Meshi, na minha opinião, está no worldbuilding realizado pelo seu autor, que consegue apresentar vários elementos biológicos desse mundo fantasioso, com um detalhe e coerência pouco vistos nos mangás – que tendem a utilizar muita liberdade criativa para criar uma narrativa labírintica. O autor se preocupa com cada mínimo detalhe, desde a textura dos músculos dos animais até o comportamento das plantas, é espetacular.
Seu encerramento em 2023, na minha opinião, consagrou Dungeon Meshi como uma das melhores séries da atualidade. O autor escolheu uma estrada segura, mas conseguiu incluir nos últimos capítulos tudo que esperamos do mangá: diversão e worldbuilding. O último capítulo acerta em todos os elementos: mantém a leveza da série, entrega boas cenas de comédia, revela a maldição que aflige o protagonista, apresenta quadros belíssimos e entrega um rápido epílogo com uma página final memorável, com uma frase que, mesmo simples, consegue impactar. Sentirei saudades da série e estou curioso para ler o próximo mangá do autor.
01 – Shimeji Simulation
Eu atrasei o meu TOP 10 de três dias por um simples motivo: Eu não sabia quais dos quatro primeiros mangás escolher para ganhar o melhor de 2023. Todos eles tiveram elementos que justificam a medalha de ouro em 2023. Chi no Wadashi conseguiu dar um encerramento poético a uma história dramática. Dungeon Meshi entregou um encerramento divertido e redondo para uma das melhores histórias de fantasia. Já One Piece conseguiu renascer das cinzas após uma sequência de anos fracos. Contudo, após refletir bastante, percebi que seria estúpido não manter a minha decisão inicial de dar o prêmio para Shimeji Simulation.
O mangá, que é muito pouco conhecido, infelizmente, conta a história de uma garota que, depois de dois anos trancada em seu armário, decide voltar a frequentar a escola. Shimeji Simulation inicialmente parece um mangá escolástico com toques de loucura e surrealismo, mas à medida que a história avança, percebemos as influências modernistas que tornam a obra tão rica e criativa. Enquanto eu mergulhava nesse mundo caótico de Tsukumizu, eu me sentia também leve, como se estivesse flutuando junto com as personagens, que ignoram até mesmo as regras narrativas no decorrer da obra.
Eu nunca tinha dado “O Melhor Mangá do Ano” para um 4-Koma, e eu acredito que chegou o momento de termos um 4-Koma vencedor. Digo e repito, o mundo dos mangás é muito lindo para nos limitarmos somente a um gênero, somente a uma quadrinização, somente a uma demografia. As obras podem quebrar essas barreiras e entregar algo espetacular dentro da sua própria proposta. E a proposta de Shimeji Simulation é discutir, através de um leve e surrealista 4-Koma, a temática da reclusão social, e assim todas as consequências que o mesmo pode ter na mente e na imaginação de uma pessoa.
Com 49 capítulos e somente 5 volumes, Shimeji Simulation encerrou a sua história em 2023. Os últimos capítulos, nos quais a protagonista viajou por vários mundos, foram de uma magia que me lembrou quadrinhos como “O Pequeno Príncipe” e me fez mergulhar na minha própria infância, enquanto de maneira poética e melâncolica o autor discutia temáticas mais adultas e conseguia desenvolver muito bem o psicológico e os sentimentos amorosos da protagonista “Shimeji”. A quadrinização eu consideraria praticamente revolucionária para uma obra 4-Koma, mostrando a espetacular habilidade artística do autor. É daquelas obras que eu aprecio pela qualidade artística que me fazem lembrar que os mangás não são somente produtos comerciais lançados em uma revista para vender, mas são principalmente produtos artísticos criados por pessoas que tentam contar histórias inovadoras.
Shimeji Simulation é, sem sombras de dúvidas, o melhor mangá de 2023.