Como muitos de vocês já sabem, nessa Quarta-Feira (3 de Maio) o Analyse It foi convidado para assistir a cabine de imprensa de “The First Slam Dunk”, filme dirigido por Takehiko Inoue, criador do mangá de Slam Dunk. “The First Slam Dunk”, porém não é uma continuação do mangá e nem mesmo do anime, na verdade, cobre o último jogo do mangá, a partida que para muitos, é uma das melhores de um mangá de esporte.
Takehiko Inoue tinha um trabalho não muito complicado, inicialmente, pois tinha que simplesmente adaptar um produto de alta qualidade, criado por ele mesmo. Contudo, simplesmente criar uma animação 2D não era o que nem Inoue e nem a Toei Animation queriam – deste modo decidiram utilizar de híbrido entre 3DCG e 2D, dando assim uma modernização nos personagens com o 3DCG ao mesmo tempo manter os elementos tradicionais da arte do Inoue.
Essa fusão, que não é nova dos animes, trouxe vários pontos positivos: O diretor soube transitar entre as duas artes, principalmente nas cenas ESPETACULARES no uniu o rascunho com o 3D. Contudo, certas cenas tem uma diminuição da fluidez, soando mais mecânicas e travadas, que em certos momentos pareciam ser de um jogo de PS4. Os personagens em comparação ao mangá, ás vezes perderam um pouco de expressividade por causa do 3D, o que pode incomodar em certas cenas, mas não estragaram a adaptação. Eu também notei que as cenas com uma prevalência maior do 2D eram mais cativantes do que as cenas com uma prevalência do 3D.
Isso não estraga a adaptação, pois a animação na grande maioria das cenas é de altíssima qualidade, além disso o mágico roteiro escrito pelo próprio Inoue, consegue transformar o filme em uma obra, talvez, superior ao mangá. Inoue consegue apresentar muito bem cada personagens, dando a possibilidade até mesmo de quem não conhece o material original, de entender o que está acontecendo naquela partida. E consegue principalmente, desenvolver mais o Ryota Miyagi, o protagonista desse filme.
Sabemos que o protagonista de Slam Dunk é o Sakuragi, que continua sendo, na minha opinião, o melhor personagem da partida, mas o Takehiko Inoue decidiu adotar uma visão diferente dessa vez, colocando a partida mais nos olhares do Ryota Miyagi, nos apresentando todo o seu passado: Slam Dunk continua sendo uma obra sobre superação e mudança, mas esse filme não é simplesmente sobre superar si mesmo, mas sim superar o luto.
Vemos a relação do Ryota, da sua mãe e do seu irmão com o basquete, esporte que vai dar uma carga emocional gigantesca para esses três personagens. E na minha opinião é esse elemento que torna “The First Slam Dunk” um filme realmente único que merece ser visto por todo mundo e não somente pelos amantes do mangá: Sai da categoria de uma adaptação do mangá, para se tornar uma obra independente com sua própria narrativa e mensagem.
The First Slam Dunk é um filme sobre como o luto corrói as pessoas que estão vivas, destruindo tudo que está ao redor delas, mas como também, através da superação do luto, se pode encontrar a paz de espirito. Ryota Miyagi encontra essa paz realizando o seu sonho e também aquele do seu irmão, enquanto a mãe encontra vendo o seu filho jogando basquete. É por isso que a partida se torna tão importante – por ser justamente o momento que esses dois personagens tentam superar a maior perda das suas vidas -.
E toda essa tensão que o Takehiko Inoue vai construindo, junto com os motivos pessoas dos outros quatro personagens (Os personagens secundários, como Kogure são completamente ignorados), culmina em dois últimos minutos de partida explosivos (que devem ser dez ou quinze minutos de filme, não olhei o relógio em nenhum momento), com uma técnica de animação, trilha sonora e movimentação espetaculares. Uma garota através de mim não conseguia aguentar a sua ansiedade e dizia constantemente: “Eles precisam ganhar”, “Não erra”, “Por favor, faz a cesta”, é raro ver uma obra que consegue despertar tamanha ansiedade em uma espectadores, que claramente não sabia como terminaria a partida.
Tem vários outros detalhes que rendem essa adaptação ainda mais interessante; por exemplo após a partida um personagem chora no vestiário – e aquele choro me deu um aperto no coração enorme, maior que muitas cenas dramáticas exageradas de muitos animes -. O filme é cheio dessas cenas de poucos segundos que na verdade o rendem tão especial, principalmente para aqueles que leram o mangá, que vão colher vários incríveis detalhes. O pós-partida, que é completamente diferente do mangá, já que é mais centrado em Ryota Miyagi dá uma conclusão também melhor a saga que o mangá deu.
The First Slam Dunk é uma ótima estreia de Takehiko Inoue, que assume a direção pela primeira vez na sua vida, mas além disso, é uma adaptação que consegue muito bem dar “vida a um jogo de basquete” ao mesmo tempo que desenvolve com maestria cada um dos jogadores da Shohoku. Você se sente dentro de um campo de basquete e se imerge na alma de cada um daqueles personagens que estão no campo. É uma adaptação que vai conseguir emocionar tanto aqueles que leram o mangá quanto aqueles que não leram, serve para ambos, mesmo que a experiência seja completamente diferente.
Eu sai do cinema alegre e aquela alegria me deixou depois bem triste, pois eu logo notei que preciso de mais Slam Dunk na minha vida…
NOTA: 8.5 / 10