Após ver o público implorando por um novo mangá de esporte, se ajoelhando na frente do departamento editorial da Weekly Shonen Jump, os editores da revista decidiram lançar uma nova série do gênero: “Do Retry”, mangá de boxes do mesmo criador do discutível “Bone Collection”.
Quando viram o anúncio da nova série, o desespero dominou o coração já em pedaços dos amantes de mangás de esportes – que estão orfão de uma obra desde 2020, quando terminou Haikyuu!! -. Parecia até mesmo um ato de sadismo por parte do Nakano (Editor-chefe da revista) contra eles, que logo levantaram as espadas prontos para invadir a Weekly Shonen Jump.
Furiosos diziam que cruzada do Nakano contra os mangás de esporte estava indo longe demais, o seu objetivo de destruir cada mangá do gênero era cruel demais. Dar uma segunda chance ao autor de Bone Collection? Considerado, por muitos leitores, um dos piores mangás dos últimos cinco anos. Mas meus amigos, abaixem as espadas, não temos que lutar. Pois se o “Jun Kirarazaka” mudasse de nome, seria impossível descobrir que “Do Retry” é do mesmo autor de Bone Collection – a diferença de qualidade das duas séries é notável, “Do Retry” somente no seu primeiro capítulo entrega um produto melhor que Bone Collection em dois volumes -. E isso acontece pois a nova sèerie de Kirarazaka entrega vários pontos que deixam a sua leitura bem mais agradável.
Começando pela ambientação. Saímos do ambiente escolar e vamos para o Japão durante e após a Segunda Guerra Mundial. Sim, temos uma grande passada de pano em todos os crimes cometidos pelo Japão naquele período, mas como sou uma pessoa que estuda na Itália desde o ensino médio, devo dizer que estou acostumado como essa narrativa seletiva. É inegável que ver um novo mangá que não seja mais uma vez uma obra “colegial” é refrescante, já que estou cansado de ler obras com sempre a mesma ambientação.
A verdade é que assim “Do Retry” se torna uma obra bem mais rica, que discute quase por osmose vários problemas daquela época: Destruição, guerra, pobreza, morte e consegue contextualizar bem o boxe, que atualmente é um esporte que saiu de moda, mas até os anos 90, era muito popular. Com certeza, se Do Retry fosse ambientado em um colégio de um ensino médio qualquer, perderia completamente a sua magia, se tornando somente mais um shounen de esportes.
Mesmo por que o roteiro da série tem seus defeitos e é justamente a ambientação que salva esse primeiro capítulo – que repito, me agradou -. O autor continua caindo naqueles velhos clichês, como o do personagem fraco que consegue através da força do protagonismo superar o problema exposto nas últimas páginas. O protagonista também não tem uma grandíssima personalidade, mesmo despertando em mim uma empatia por causa da sua condição de órfão e também por sua dedicação em salvar a irmã doente.
O esporte é principal e coadjuvante desse começo de história, coadjuvante já que o autor se dedicou mais tempo mostrando as motivações do protagonista, do que realmente as lutas de boxes, mas principal pois as motivações são todas centradas na relação entre o nosso herói e seu pai, ex-lutador de boxe morto na guerra. Sim, ás vezes me soou irritante essa motivação, já queKirarazaka decidiu fazer o protagonista dizer continuamente as mesmas informações sobre o seu pai como técnica narrativa para mostrar como o nosso herói é “dedicado em se tornar um grande boxeador”, mas como eu disse, o roteiro desse capítulo tem seus problemas.
Porém a maior evolução de Jun Kirarazaka é realmente no quesito “arte”, que era ruim demais em Bone Collection, mas se tornou adorável em Do Retry. O design do protagonista, com seus cabelos longos, dentes caninos e rosto sujo, dão uma ideia de “menino lobo” que combina muito tanto com a época no qual o mangá é ambientado quanto com a sua personalidade. O seu traço e seus quadros ainda são inconstantes. Páginas que deveriam ser impactantes se tornam quase frívolas por causa da inexperiência do autor (exemplo a página 15 e as páginas 52-53), mas é claramente um grande pulo em relação a Bone Collection.
O primeiro capítulo de Do Retry deste modo é uma agradável surpresa, pois entrega um ambientação legalzinha, um protagonista carismáticos e um roteiro autossuficiente, mesmo que cheio de clichês e algumas problemáticas. A arte continua sendo inconstante, mas é claramente uma melhoria em comparação a Bone Collection. É ótimo? Não. Me convenceu por completo? Também não, mas me agradou. Me alegra ver um autor entregando um bom primeiro capítulo de uma obra de esporte, gênero que está fazendo muita falta a revista e espero que Do Retry continue entregando bons capítulos, pois entre os três novatos lançados até agora, é aquele que entregou um melhor conteúdo.