Quando “Hinomaru Zumou” estreou em 2014, escrevi em minhas primeiras impressões que o Kawada conseguiu entregar “um primeiro capítulo coeso” que parecia vir de um autor experiente e não de um amador. Hinomaru Zumou se tornou uma das séries com melhor recepção inicial da história dos fóruns japoneses, com avaliações altíssimas por parte dos leitores. Contudo, as suas vendas eram baixas para a época, vendendo entre 30 e 50 mil cópias por volume em 1 mês. Mesmo assim, Hinomaru Zumou teve 28 volumes e concluiu sua história de modo bem redondo.
A nova série do Kawada chega em um momento de crise da Weekly Shonen Jump, que está precisando de mangás de esporte de sucesso. “Do Retry” certamente não será a série que vai quebrar a maldição da revista, que não tem um sucesso no campo dos mangás de esporte desde Hinomaru Zumou (E não, o Rakugou não é um esporte, por isso Akane Banashi não é um mangá de esporte, mesmo a Weekly Shonen Jump tentando enganar o público dizendo que é). Mas será que o primeiro capítulo de “Asumi Kakeru” é bom o suficiente?
Bem, eu acredito que mesmo não sendo um primeiro capítulo tão bom como aquele de Hinomaru Zumou, Asumi Kakeru entregou um capítulo competente. Começando pelo protagonista que mesmo não tendo uma grandíssima personalidade (o que pode se tornar um problema, como acabou sendo para Tenmaku Cinema), eu gostei do fato que sua relação com as artes marciais vem do seu passado, esse mesmo passado coberto por um trauma obscuro. É sim um clichê, contudo, se bem trabalhado pode ser um elemento interessante, já que raramente a Weekly Shonen Jump trabalha com doenças neurodegenerativas como Alzheimer.
Não é uma estratégia nova do autor, que usou algo similar com Hinomaru Zumou, mas mesmo assim é algo que dá profundidade para uma história que precisa de personagens multidimensionais para dar certo. Falando em personagens, Hinomaru Zumou sofreu muito por não ter personagens femininas marcantes, deste modo o autor já colocou uma personagem feminina secundária que, na minha opinião, é a mais carismática desse primeiro capítulo. Já que nem o protagonista e nem os vilões conseguiu me cativar e convencer.
Os vilões, inclusive foram importantes para a cena de “CATARSE” da série, no qual o protagonista mostra sua verdadeira habilidade – estratégia também muito comum em vários outros mangás, no qual o herói se controla para não mostrar sua força e nas últimas páginas enche de porrada o vilão, dando a sensação de satisfação ao leitor -. Essa cena não teve o impacto esperado em mim, mas mesmo assim as cenas de luta me divertiram.
A boa arte de Kawada ajudou a aumentar essa diversão. Mesmo ele podendo colocar mais cenas de lutas, batalhas mais complexas, nesse primeiro capítulo, no pouco apresentados tivemos quadros fluídos que deram dinamismo para os movimentos de arte marciais, como os chutes e punhos. Algo que por exemplo Do Retry não consegue realizar. Essa sua habilidade de criar boas cenas de combate (Habilidade que já vimos em Hinomaru Zoumou) será essencial para quando o autor começar a desenvolver lutas mais complexas, no qual a emoção vai depender completamente da dinâmica dos duelos na arena do MMA.
A série, porém, sofre de dois problemas que podem se agravar nos capítulos seguintes – e podem ser os elementos que vão anular as suas chances de sucesso- Primeiramente, o capítulo mesmo tendo uma boa tensão nas últimas páginas, soou muito morno, sem coração. Hinomaru Zumou exalava em suas páginas muita emoção, justamente pelo protagonista, Hinomaru, estar lutando pela honra de um esporte esquecido – já o Asumi por enquanto não parece se importa o suficiente, diminuindo a emoção em suas ações e reações.
Também acredito que a série apresentou uma quantidade exagerada de personagens, vários personagens foram simplesmente desnecessários nesse primeiro capítulo – não era necessário já nomear os outros “irmãos” já que não tiveram uma utilidade na história -. Apresentar já no primeiro capítulo uma grande quantidade de personagens deixa os leitores mais confusos. É por isso que até os mangás no qual tem uma grande quantidade de personagens secundários (Haikyuu!!, Slam Dunk, Naruto, Boku no Hero Academia) preferem começar a série em situação no quais esses personagens secundários não podem estar presentes, podendo se concentrar mais no protagonista.
Asumi Kakeru não me surpreendeu e não posso dizer que teve a qualidade do primeiro capítulo de Hinomaru Zumou, faltou em seu DNA uma emoção que precisa ser entregue nos próximos capítulos, mas também não posso dizer que Asumi Kakeru é um mangá RUIM, pois não é, já que é competente em desenvolver o seu objetivo: Apresentar os dois protagonistas e introduzir o leitor ao MMA. É preciso, no segundo ou terceiro capítulo, algum elemento que renda essa trama mais envolvente, para despertar no leitor uma curiosidade em ler os próximos capítulos. Espero estar errado, mas não vejo esse começo recebendo muitos votos.