E aqui estamos com mais uma nova leva, por isso mais uma nova matéria de “Primeiras Impressões”. Dessa vez para comentar mais nova série de esporte da Weekly Shonen Jump, “Green Green Greens” de Kento Terasaka. O mangá estreia praticamente com um hype negativo aqui no ocidente, depois do público se decepcionar com as posições baixas de Kagurabachi e MamaYuyu. Para piorar, o autor que já tinha lançado o terrível “Beast Children” deixou ainda mais pessoas com o pé atrás em relação a esse novo mangá, contudo, aprendemos muito bem que o hype de uma série no ocidente é indiretamente proporcional com as suas chances de se tornar um sucesso.
Deste modo o maior desafio de Green Green Greens não é convencer o público ocidental e sim aquele japonês, que no mesmo tempo que pede por um novo mangá de esporte de sucesso, parece não estar dando possibilidade para nenhum na revista, já que é desde Hinomaru Zumou que não temos um Spokon (mangá de esporte) que consegue superar a marca de 2 anos de vida. E assim Greens estreia justamente com um esporte que talvez tenha sido aquele que mais se aproximou a um sucesso, o golfe, com Robot x Laserbeam. E devo assumir uma coisa, mesmo com a corrente empurrando a série para a cachoeira do cancelamento, Greens entregou um primeiro capítulo sólido, mesmo que tenha alguns claros problemas.
Esse primeiro capítulo trouxe uma solidez tanto narrativa quanto nos personagens. Na questão da solidez narrativa tivemos uma competente história no qual o protagonista conhece a si mesmo e também o esporte. Unir a jornada pessoal com uma jornada profissional é essencial para que os leitores torçam para o protagonista. Um dos motivos pelo qual Haikyuu!! é tão envolvente é que a vitória do time não é simplesmente uma vitória profissional, esportiva, mas sim uma genuína recompensa pelo trabalho de cada um dos jogadores do time. E Green Green Greens tenta criar assim criar bases sólidas para torcemos pelo herói da obra. E também torcemos para a heroína, que atualmente é um elemento essencial para a sobrevivência de um mangá na Weekly Shonen Jump.
A arte da série sofre com um excesso de quadros brancos, mas consegue brilhar em vários quesitos: A primeira página colorida é simplesmente maravilhosa e os olhos dos personagens tem uma profundidade quase mágica, que ajudam a criar um efeito mais dramático nas reações dos mesmos. Mesmo com essas claras qualidades, eu acredito que Green Green Greens entregou simplesmente uma arte básica para os padrões da Weekly Shonen Jump, que não consegue me chamar tanta atenção. A quadrinização também não é ousada, é simplesmente normal.
O design de personagens também acabam caindo nessa categoria de clichês, já que não apresentam nenhuma característica que os destaquem em comparação a tantos outros personagens de mangá que temos no mercado, e infelizmente Green Green Greens o autor não tem uma arte única o suficiente para conseguir realçar o design genérico dos dois protagonistas, como acontece com Black Clover e Jujutsu Kaisen. Por sorte, se o autor não apresentou nenhum design incrível de personagem, conseguiu acertar na personalidade deles.
Os personagens pareceram ser profundos e não clichês. O protagonista não é um simples garoto que sonha em ser um grande esportista ou um grande jovem atleta que descobre mais um novo esporte no qual é, mas sim um jovem bom em esportes que não acredita em seu potencial. O seu modo de pensar ressoa em muita pessoas que também não acreditam em si mesmo, por se verem como “mais um peixe no mar”. Sim, Haku Yaesaki não é um protagonista inovador, mas caso o autor saiba desenvolvê-lo pode ser adicionado a ele várias nuanças que dão uma maior profundidade.
Oga também mostrou-se uma personagem bem construída, algo que repito que é importante nos mangás atuais, já o público japonês está cada vez mais pedindo por boas personagens femininas nas obras modernas. O modo no qual Oga é centrada em realizar o seu sonho, ao ponto de querer viajar para os Estados Unidos para se tornar uma atleta de golfe, vai totalmente contra o pensamento de Yaesaki que cedeu a mediocridade -. Além do mais Oga no mesmo tempo que parece ser cruel com Yaesaki, também demonstra ser muito empática quando vê o mesmo se dedicando ao golfe.
O autor assim cria uma dinâmica curiosa, que culmina na melhor cena desse capítulo capítulo, quando Oga admite que odeia Yaesaki, levando-o a refletir sobre a sua própria vida. Para mim aquela cena mostrou que o mangaká Kento Terasaka evoluiu muito desde Beast Children, e agora sabe criar um roteiro mais natural e de boa qualidade. É sempre bom ver séries que conseguem entregar cenas dramáticas sem soarem exageradas ou pedantes.
Contudo, devo assumir que a série sofre de alguns problemas que na minha opinião podem crescer nos próximos capítulos. Eu não achei em nenhum momento a representação do Golfe interessante – o primeiro capítulo de Haikyuu!!, por exemplo, consegue entregar uma partida de vôlei muito boa -. O capítulo de Greens soou extremamente vazio, sem nenhuma real intensidade. Os personagens foram bem apresentados, a diferença deles bem desenvolvida e também a conclusão do capítulo é satisfatória, mas eu não senti como estivesse lendo um primeiro capítulo realmente memorável, não me despertou curiosidade em ler o capítulo seguinte, algo que senti até mesmo com Kagurabachi.
A realidade é que do mesmo modo que a arte de Green Green Greens não é ousada, o seu roteiro também não é, contudo ambos os elementos são competentes em entregar aquilo que se propõem: um bom primeiro capítulo. A minha dúvida é se esse “bom” é realmente o suficiente para prender os leitores, e principalmente, convencê-los a votar na série. De qualquer modo, não deixa de ser um grande feito um autor tão desacreditado conseguir entregar um primeiro capítulo tão sólido, mesmo que não magnifico. Eu vou continuar lendo Greens para ver para onde irá levar, principalmente a interação entre os dois protagonistas, mas a obra ainda precisa me convencer.
Crítica escrita por Leonardo Nicolin.